"O que me preocupa não é o grito dos maus.É o silêncio dos bons" Luther King

terça-feira, 6 de junho de 2017

CAPES

Hoje tive uma experiência forte para a minha vida.
É estranho quando você não vê uma pessoa que te marcou por muitos anos, essa experiência pode trazer uma efusão de sentimentos.
É como desenterrar um morto que estava adormecido, mas sempre esteve ali, presente de algum modo.
Choveu muito e cheguei naquele lugar que parecia um tanto sombrio, depois de atravessar avenidas abandonadas da grande cidade, existem lugares que talvez sejam históricos por eles estarem sempre te atualizando de vários períodos e sempre sinto isso quando ando aos arredores da Sé. Tantos loucos e mendingos ao seu redor. Disse um rapaz certa vez, que é comum e existe alguma coisa ali que atrai tantos espectros.
Os hospitais me parecem sempre os mesmos desde quando era criança nunca me agradaram, de fato, prefiro não estar ali, lugares lotados e as pessoas com a aparência de que precisam de ajuda que não é dada.
Subi o elevador antigo, no segundo andar o tratamento é de "drogas e álcool" e no quarto de "saúde mental". Bem, visitei ambos, apesar de não me parecerem tão diferentes assim, me agradou ver desenhos no segundo andar. Não gosto das pessoas usarem uniformes, diferencia os visitantes, dos pacientes e médicos.
Fiz meu encontro com ela de forma surpresa, já no elevador, sem preparo algum, ela perguntou se tinha trazido doces e reparei nesse momento que tinha esquecido de levar algo.
Depois, quando tantas pessoas estavam ao meu redor, em uma sala fechada, ela pegou em seu coração e abraçava a si mesma. O olhar era em direção ao nada com um quê de tristeza. Isso parte meu coração e sinto vontade de chorar imensamente, mas é melhor segurar as lágrimas e ser a pessoa ponderada que aprendi a ser. É horrível os disfarces que críamos para viver nesse mundo.
Depois, caminhamos até o dormitório, onde não existe nada além de três camas e um armário, tudo é branco, lá está apenas uma companheira de quarto, tentei contar uma história que não veio e perguntei se gostavam da bíblia, perguntei se na próxima visita eu poderia ler um trecho para elas, a senhora que divide o quarto com ela disse que sim e na saída disse para eu orar para ela já que ninguém lhe faz uma visita.
Eu me senti animada a voltar, apesar de ser cansativo para mim.
Pedi para ela me levar na biblioteca e me levou no seu silêncio, quando lá chegamos ficou olhando pelas vidraças a cidade e a chuva, me parece que nada faz sentido. Em algum momento ela diz:
"Agora que já acabei com a minha vida, estou aqui." e sinto isso como uma pedra em mim.
O acervo da biblioteca é pequeno e a maioria dos livros são didáticos. Olho o livro do Robison Crusoé, falava sobre o mar, pensei em ler, mas tem momentos que é melhor sentir o silêncio mesmo quando ele é cheio de significados difíceis de serem compreendidos. Chega outra visita, aquele que sem ter obrigações está ali, talvez isso seja amor e vem de alguém que diz apenas que os meninos vão crescer juntos, mesmo não tendo dinheiro algum.
Decido partir e ganho um abraço, mesmo com tanto embaraço.
Tenho uma longa conversa depois e me explicam o que já sabia, a noção de lar talvez deva ser construída porque é diferente a maneira como tudo isso se processa em sua mente, a concepção de estar no mundo e perspectivas não são as mesmas e as minhas também vão por esse mar de outra forma.

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